O marxismo é um pensamento de ruptura mas pode não sê-lo,
conforme sua apropriação e seu uso. Escobar, 1996, p.92 Introdução O marxismo
teve no ano de 1965 o lançamento de dois livros que marcariam profundamente não
apenas o campo teórico/filosófico, mas também o político: Pour Marx (PM) e Lire le
Capital (LC), de Louis Althusser. As duas obras não passaram despercebidas,
pois geraram um intenso e apaixonado debate tanto em torno de diversas questões
relativas à obra teórica de Karl Marx quanto em torno dos seus efeitos
políticos. As publicações de PM e LC estavam longe de reivindicar uma
neutralidade no campo teórico marxista, ou mesmo de serem obras puramente
teóricas e formais. Como observa o próprio Althusser em “Defesa de tese em
Amiens” (1998c), essas duas obras teóricas continham uma clara intervenção na
política e na filosofia marxistas reinantes, dominadas por leituras dogmáticas
marcadas tanto pelo viés economicista como pelo seu par humanista, que para
Althusser expressavam à época uma posição claramente direitista no marxismo.
Segundo Althusser (1998c), tanto o título de PM como LC eram
igualmente palavras de ordem: o primeiro evocava um retorno a Marx, ao Marx
revolucionário que fundou a Ciência da História (em oposição ao jovem Marx
filósofo humanista), e com ele um novo conjunto conceitual centrado na luta de
classes para o conhecimento dos distintos processos históricos das mais
diversas formações sociais; o segundo uma clara defesa de O Capital como a obra central de Marx em clara oposição às
interpretações que enfocavam, ou davam maior ênfase às obras de juventude de
Marx, em especial aos Manuscritos de 1844.
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É necessário contextualizar o lançamento dessas duas obras magnas de Althusser:
o ano de 1965 estava marcado por uma gama de movimentos revolucionários que
sacudiram o mundo como a Revolução Cubana, a Revolução Argelina, a guerra do
Vietnã, a ruptura sino-soviética, as lutas de libertação nacional na África portuguesa
(Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde) e a emergência de ditaduras
burguesas com sustentação militar, apoiadas pelo imperialismo estadunidense,
como ocorreu em várias formações sociais latino-americanas a exemplo do Brasil,
da Argentina, da Bolívia e da República Dominicana.
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