11/10/13

Sujeito Histórico em ‘O Capital’

Karl Marx
✆ Ricardo Avendanyo de Vena
André Guimarães Augusto  |  O artigo apresenta de forma inicial a questão do sujeito histórico em “O Capital”. Após uma breve apresentação da natureza da determinação de sujeito na obra de Marx, indica-se que em “O Capital” Marx observa que a classe trabalhadora está sob a dupla determinação de sujeito que se objetiva e sujeito autoalienado. Essa dupla determinação coloca a classe trabalhadora como sujeito revolucionário em um processo de vir a ser na sua luta contra o capital. Aponta-se que o exame das lutas da classe trabalhadora pela redução da jornada, pela legislação fabril e contra as máquinas indicam o processo pelo qual a classe trabalhadora passa de sujeito autoalienado à sujeito revolucionário. Adiconalmente, são apontadas 'pistas' em “O Capital” de que, aquilo que hoje é apontado como sintomas do 'desaparecimento' ou transformação radical da classe trabalhadora em outro modo de ser, não são elementos suficientes para rejeitar sua determinação de sujeito revolucionário.

O objetivo deste artigo é traçar a questão do sujeito histórico na obra O Capital, de Karl Marx, a partir das categorias e leis de desenvolvimento da sociedade sob o domínio do capital. É predominantemente entendido no marxismo que a classe trabalhadora é o sujeito histórico capaz de realizar a superação da sociedade capitalista para uma sociedade emancipada, o comunismo. No entanto, ao longo do século XX, outras interpretações passaram a negar o papel da classe trabalhadora como
sujeito revolucionário. Um dos argumentos que negam a classe trabalhadora como sujeito revolucionário, originária da escola de Frankfurt, é de que esta foi integrada ao capital posto que este é um movimento de alienação totalizante, que engloba a tudo, e que só pode se dissolver por seu automovimento. Outro argumento, de natureza estruturalista, é de que a classe responde apenas às necessidades do automovimento das estruturas e que, portanto, não há sujeito revolucionário, ou de qualquer tipo. O argumento de tonalidade pós-moderna afirma que qualquer movimento de classe não tem caráter emancipatório, mas, ao contrário, é necesariamente autoritário posto que identificado com uma “grande narrativa” moderna.

Ao lado e complementando essas objeções teóricas estão objeções históricas1 que defendem que as mudanças do capitalismo do século XX retiraram da classe trabalhadora qualquer possibilidade de ser um sujeito revolucionário, ou até mesmo que esta “deixou de existir”, ao menos com alguma relevância social. Leituras que renunciam a classe trabalhadora como sujeito o fazem descobrindo supostas incoerências e ambiguidades na obra de Marx, ou seccionando esta entre a obra do teórico e a do revolucionário, sendo a primeira válida e a segunda ultrapassada pelo movimento histórico. Diante dessas leituras, optou-se aqui por tentar abordar a obra de Marx como uma totalidade, ainda que de forma meramente indicativa, e sem seccioná-la. Deste modo, embora o objeto desse artigo seja o sujeito histórico em O Capital, foram tomadas referências em outras obras de Marx – especialmente os Manuscritos econômico-filosóficos, mas também as obras “preparatórias” de O Capital, como os Grundrisse, Para a Crítica da Economia Política e o Capítulo VI .

O texto está estruturado em quatro seções. Na primeira, indicam-se as determinações mais gerais do sujeito histórico em Marx. As seções seguintes apresentam as diferentes determinações da classe trabalhadora como sujeito: sujeito que se objetiva, sujeito alienado e sujeito revolucionário. Na segunda seção, é apresentada a classe trabalhadora como o sujeito que se objetiva sob a forma de valor e capital, com classe que cria o valor e o capital. Na terceira seção, a clase trabalhadora é apresentada em sua determinação de classe autonegada e autolienada no capital, como sujeito alienado. São duas determinações do mesmo ato, mas para chegar à questão da classe trabalhadora como sujeito revolucionário, apresentada na última seção, optei por apresentá-las separadamente.