- Bensaïd restabelece o caráter global da obra e da vida de Marx, como pensador e como militante, como analista e como teórico da revolução.
Emir Sader | Marx, que continua sendo o maior protagonista
das análises e dos debates contemporâneos, precisa de uma nova apresentação? O
Manifesto Comunista é a obra mais publicada no mundo, depois da Bíblia. Por que
voltar sobre a obra desse alemão - teórico e militante – cuja obra foi
publicada há mais de um século e meio? Porque, à importância subversiva de Marx
se unem a deformação do seu pensamento, quando não é mais possível silenciar
sobre sua obra. Até há pouco o capitalismo havia sido promovido a um fenômeno
identificado com dinamismo, modernização, progresso, racionalidade,
criatividade, etc., etc.
O máximo que as capas das revistas faziam em relação a Marx
era festejar sua undécima morte. O fim da história haveria decretado o fim do
socialismo e, com ele, as análises e as previsões de Marx. De repente, veio a
nova crise do capitalismo e as palavras crise, recessão, desemprego, trouxeram
de volta a Marx, como o maior analista do capitalista e das suas crises. Mas um
Marx domesticado, bem comportado. Um Marx analista, mas não político. “Um Marx sem comunismo nem revolução,
academicamente correto”, como diz Daniel Bensaïd na abertura da sua
deliciosa introdução a Marx.
Bensaid restabelece o caráter global da obra e da vida de Marx, como pensador e como militante, como analista e como teórico da revolução. O livro acompanha a biografia do Marx, sua formação intelectual e política, a construção da sua obra e sua imbricação com sua militância política.
O marxismo se constituiu no principal protagonista dos
maiores debates teóricos e dos mais importantes embates políticos desde então.
De repente, há duas décadas, os conservadores decretaram a morte do Marx, que
vinha acompanhada do fim da URSS e da retração da esquerda no mundo.
Por que de repente surge uma ressurreição do Marx?
“Simplesmente porque Marx é nosso contemporâneo, a consciência pesada do
capital. E porque o capital, que ainda ensaiava os primeiros delitos
quando ele traçou seu perfil falado, tornou-se hoje um serial killer adulto que
devasta todo o planeta.”
O passeio a que nos leva Bensaid vai das primeiras obras
filosóficas de Marx, passa por seus escritos econômicos e chega às suas obras
políticas. Da formação do conceito de alienação, passando pelo da exploração
até chegar às analises da Comuna de Paris e do protagonismo político do
proletariado.
Bensaid, o melhor pensador da sua geração, da geração de maio
de 1968, faz isso com grande maestria e seu estilo instigante, provocador,
irônico e agitador.
Ninguém melhor para introduzir, hoje, a Marx.
PS do colaborador: Daniel
Bensaïd (1946-2010), filósofo e dirigente da Liga Comunista Revolucionária, foi
um dos militantes mais destacados dos movimentos de Maio de 1968. Foi professor
de Filosofia da Universidade de Paris VIII. Autor de muitas obras, tem, entre
as publicadas em português, Os irredutíveis (Boitempo, 2008), Marx, o
intempestivo (1999) e, em co-autoria com Michael Löwy, Marxismo, modernidade e
utopia (2000).