Evald Vasilievich Ilienkov |
Marcelo José de Souza e Silva
Evald Vasilievich Ilienkov foi um filósofo
soviético que teve como cerne de sua obra o confronto ao
neopositivismo/empirismo, além de ter elaborado sobre a teoria do conhecimento,
a lógica e a dialética, sob um ponto de vista materialista, enfatizando a unidade
entre o subjetivo e o objetivo e a ligação orgânica entre a lógica e a
história; discutiu também questões sobre psicologia, educação, estética, e
escreveu sobre a teoria da personalidade, o desenvolvimento do pensamento e da
apropriação do conhecimento no ensino escolar, enfatizando a questão social no
tornar-se humano. Publicou uma vasta obra, incluindo artigos em enciclopédia e
periódicos e capítulos em livros, além de ter deixado diversos manuscritos.
Suas obras foram traduzidas para muitas línguas, recentemente também para
português. Entretanto, apesar da tradução em inúmeras línguas e de ser até hoje
influente na Rússia pós-soviética, Ilienkov ainda permanece sendo um autor
pouco conhecido internacionalmente e no Brasil.
Vida e morte
Evald Vasilievich Ilienkov nasceu em 18 de
fevereiro de 1924, em Smolensk, oeste da Rússia (na época, Bielorrússia), filho
do escritor Vassili Pavlovich Ilienkov (1897–1967) e da professora Elizabet
Ilinichna. Em 1941 formou-se na escola nº 170 de Moscou, iniciando em setembro
do mesmo ano seus estudos em filosofia na Faculdade de Filosofia do Instituto
de Filosofia, Literatura e História de Moscou. Foi obrigado a se afastar em
1942, devido ao alistamento militar para a II Guerra Mundial. Com o fim da
guerra, o Instituto de Filosofia e Artes de Moscou foi fechado e Ilienkov
continuou seus estudos, a partir de fevereiro de 1946, na Universidade Estadual
de Moscou, onde conhece Valentin Ivanovich Korovikov e Alexander Ivanovich
Meshcheriakov (1923–1974). Conclui o curso em junho de 1950, mesmo ano em que
se tornou membro do Partido Comunista, com recomendações para os cursos de
pós-graduação do Departamento de História de Filosofia Marxista-Leninista, e em
que se casa com a pedagoga Olga Salimova.
Em setembro de 1953, sob orientação de
Teodor Ilich Oizerman (1914–), Ilienkov defende sua dissertação de mestrado,
intitulada Alguns Problemas na Dialética
Materialista da Crítica da Economia Política de Karl Marx. Neste ano passa
a lecionar, juntamente com Valentin Korovikov, na Universidade Estadual de
Moscou. Este também é o ano da morte de Joseph Vissarionovich Stalin (1878–1953),
período no qual começa o degelo
krushchovista, liderado por Nikita Sergeievich Khrushchev (1894–1971).
Entretanto, apesar de suas promessas de superar os dogmas do período anterior,
falhou em remover os velhos filósofos das instituições de ensino. Isso faz com
que surjam expoentes de um novo grupo de teóricos dispostos a enfrentar os
dogmas do regime stalinista, tendo como principais figuras Ilienkov e Aleksandr
Aleksandrovich Zinoviev (1922–2006), os quais, na tentativa de combater o
legado stalinista, entram em choque com esses velhos filósofos.
Por esses embates e por se posicionar por
uma necessidade da filosofia soviética se repensar, é demitido da Universidade
Estadual de Moscou em maio de 1955, acusado de revisionismo1, após ele e
Korovikov declararem públicamente que a filosofia marxista é lógica e teoria do
conhecimento, sendo seu objeto o pensamento (Naumenko, 2005). Essas
articulações foram entendidas como fuga problemas vitais práticos da ciência pura para o pensamento puro. De acordó com a comissão do Comitê Central do
Partido Comunista da União Soviética, isso se constituía em uma perversão da
filosofia do marxismo, uma revisão da base da filosofia marxista-leninista.
Entretanto, de acordo com Siebert (2005), o que Vigotski buscou enquanto
psicólogo, Ilienkov buscou enquanto filósofo: superar a separação formal entre
filosofia e ciências concretas, elaborando uma teoria que rejeita o dualismo
entre corpo e mente. Ilienkov e Korovikov buscaram retornar a filosofia às
raízes do marxismo, restringindo seus objetivos à esfera do pensamento puro,
pois, para Ilienkov, o objeto genuíno da filosofia era o ideal e seus fenômenos
(Maidansky, 2005), buscando entender a natureza do pensamento na estrutura das
relações sociais e mostrar que o ideal é a forma especial de movimento dos
corpos no processo de trabalho e dentro da cultura, distanciando-se do
entendimento do senso comum de que o ideal é um sinônimo de mental, em
contraste com o real que é tangível (Maidansky, 2014). Ilienkov buscaba resgatar
a filosofia do empobrecimento que ela vinha sofrendo durante o século XX, um
empobrecimento de seu objeto de estudo, um reducionismo obséquio que se
manifesta na substituição de seu objeto por qualquer outro.
Alguns filósofos transformaram a filosofia
em um simples apêndice das ciências naturais, outros a igualaram com a lógica
formal, ainda outros com a matemática, com a psicologia, com a fisiologia, com
a linguística, com a teologia e alguns também com a arte. Nessa esteira, a
psicologia ainda foi reduzida à fisiologia, a matemática à lógica, a lógica à
linguística, e assim por diante (Naumenko, 2005). Algum tempo depois de sua
expulsão, por recomendação de Oizerman e Marc Moisieievich Rosental
(1906–1975), Ilienkov consegue um cargo no Instituto de Filosofia da U.R.S.S.,
no setor Materialismo Dialético (onde trabalhou até sua morte). Porém, mesmo
tendo sido aceito no instituto, Ilienkov foi sendo cada vez mais isolado devido
aos seus embates com os filósofos do regime stalinista e, eventualmente, foi
até mesmo impedido de ensinar. Como exemplo, Bakhurst (1991) especula que
Ilienkov foi impedido pelos diretores do instituto de participar de um simpósio
chamado Marx and the Western World na
Universidade de Notre Dame, em 1965, além de ter sido objeto de uma campanha de
acusações, na qual seu artigo enviado, Do
Ponto de Vista Marxista-Leninista, é acusado de ser antimarxista. Segundo
Maidansky (2013), os três relatórios enviados por Ilienkov falam sobre a
alienação criada pela divisão do trabalho, afirmando que, no socialismo, essa
alienação ainda continua, pois a forma de propriedade criada com a revolução
socialista era apenas uma negação formal-jurídica da propriedade privada. Para
Ilienkov, a propriedade que pertence ao Estado é pública apenas formalmente,
apenas no aspecto judicial, enquanto, na prática, a forma socialista de
propriedade continua sendo privada. A real superação da alienação é um processo
de transformação da propriedade privada na verdadeira propriedade de cada
indivíduo, de cada membro da sociedade, e não a monopolização da propriedade no
Estado. Essas argumentações não passaram na censura e foram cortadas da versão
enviada ao simpósio.
Mesmo com todas as adversidades, na segunda
metade da década de 1950, Ilienkov publica os artigos A Dialética do Abstrato e do Concreto no Pensamento Científico e
Teórico (1955), Sujeito e Objeto
(1956), Sobre a Questão da Contradição no
Pensamento (1957), Sobre a
‘Especificidade’ da Arte (1960), além do discurso Sobre o Papel da Contradição no Conhecimento (1958) na conferência O Problema da Contradição no Mundo
Científico e Prático Contemporâneo, do Instituto de Filosofia da Academia de
Ciências da U.R.S.S., a resenha do livro O Jovem Hegel (1956), de György
Lukács (1885–1971), e as traduções para o russo de Quem Pensa Abstratamente? (1956), de Hegel, e Critérios Econômicos de Hegel no Período de Jena (1956) – parte do
livro O Jovem Hegel, de Lukács.
Segundo Carrión (2012), depois da publicação do livro A Dialética de O Capital de Karl Marx, de Marc Rosental, em 1955,
iniciou-se um ciclo de investigação muito frutífero sobre os problemas da
dialética materialista. Nesse ínterim, Ilienkov e alguns de seus alunos criaram
um grupo de estudo sobre a relação entre a lógica hegeliana e a dialética
materialista. Esse grupo buscou traducir para o russo a obra O Jovem Hegel, de Lukács. Buscando
solucionar dúvidas terminológicas sobre a relação entre os conceitos Entäußerung e Entfremdung, entraram em contato com o autor, que indicou que
procurassem o filósofo ruso Mikhail Alexandrovich Lifschits (1905–1983), amigo
e estudioso de Lukács.
De acordo com Maidansky (2013), nessa mesma
época, em 1956, ocorre a insurreição húngara e, como Lukács era Ministro da
Cultura, foi impossível publicar seus trabalhos em russo. Dez anos depois,
Ilienkov e seus alunos tentaram publicar mais uma vez a tradução, novamente sem
sucesso. E apesar de seu interesse na obra de Lukács e de muitos pontos em
comum, Ilienkov era contrário à divisão lukacsiana entre ontologia e
gnosiologia. Para ele, essa divisão ocorre quando se entende a realidade como
refratada no espelho do intelecto, enquanto o que a filosofia deve buscar é um
princípio materialista da identidade do pensamento e do ser, procurando superar
o objeto da ontologia – a relação do pensamento com realidade (realidade em
geral) – pelo objeto da filosofia da relação da realidade com si mesma,
realidade essa concretamente histórica. Para Ilienkov, a lógica formal é a
ciência das formas simbólicas da expressão do pensamento, funcionando muito bem
no campo da linguagem. Enquanto a lógica formal ensina apenas a expressar
pensamentos corretamente, a lógica dialética ensina a producir pensamentos. A Lógica, a dialética (materialista),
portanto, é o pensamento sobre o pensamento (Maidansky, 2013).
Em 1960, é publicado pela Editora da
Academia de Ciências da U.R.S.S. o seu primeiro livro, A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx,
que continha o manuscrito A Dialética do
Abstrato e do Concreto no Pensamento Científico e Teórico. P. N. Fedoseiev,
diretor do Instituto de Filosofia na época em que Ilienkov lá trabalhava, leu o
manuscrito do livro e mandou destruí-lo, não permitindo sua publicação. Porém,
alegando ter sido roubado, o manuscrito aparece na Itália, como futura
publicação da editora Feltrinellli. Com isso, o Instituto faz com que Ilienkov
reescreva o manuscrito para ser publicado em russo antes da edição italiana,
retirando, por pressão, a maioria das partes hegelianas e toda sua crítica
contra a lógica formal, sendo publicado, ao final, um livro com aproximadamente
um terço do conteúdo original. A tradução italiana foi publicada em 1961.
Contraditoriamente, em 1965, por seu trabalho sobre a história e a teoria do
conhecimento da dialética materialista, recebe da Academia de Ciências o prêmio
Tchernichévski.
Em 1962, escreve o verbete Ideal para o
segundo volume da Enciclopédia Filosófica,
sendo que até esse momento a categoria ideal havia sido pouco explorada por
autores marxistas. Segundo Maidansky (2014), esse verbete gerou grandes
debates, considerado por muitos como puro hegelianismo. No verbete, inicia a
grande questão que foi seu objeto de estudo e para a qual sempre retornou, o
ideal, procurando resgatá-lo das concepções positivistas – que o entendiam enquanto
sinônimo de mental, de subjetivo –, mostrando que o ideal existe apenas no
movimento da atividade humana, apenas no momento de conversão da forma de uma
coisa na forma de atividade e vice-versa, pois tão logo a atividade humana
acabe, o ideal é imediatamente extinto. O ideal é a representação da própria
essência das coisas, portanto, essa essência é material, sendo o ideal algo
objetivo (mesmo que não seja necessariamente material). E dentro da consciência
essa forma ideal objetiva da atividade humana adquire subjetividade. Essa
representação aparece de forma superior através do conceito, pois o único
requisito do conceito é que ele expresse devidamente a essência de seu objeto,
que ele seja verdadeiro, não importando como essa coisa apareça, de como mude
seu aspecto externo. Ilienkov, em A
Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx, usará o
valor como exemplo (seguindo os passos de Marx (1818–1883) em O Capital) da forma ideal, sendo seu
conteúdo a atividade material do ser humano – que tem o trabalho enquanto sua
substância e que existe apenas enquanto as relações entre os indivíduos se dão
através do mercado (no modo de produção capitalista)2 (Maidansky, 2010).
Aqui cabe colocar as ressalvas feitas por
Jones (1998; 1999) a Bakhurst 1991; 1997) em sua interpretação do que é o ideal
na obra de Ilienkov. Ideal não é qualquer coisa resultante de uma atividade humana
que possui uma ideia, uma intenção, por trás de sua produção. A idealidade
também não consiste na função, utilidade
das coisas produzidas, assim como quando Ilienkov trata da representação, não é
no sentido de representação da atividade exercida pelo objeto. A idealidade da
forma valor está calcada nas relações sociais de produção capitalistas, que
exigem que os diversos produtores privados igualem suas mercadorías no mercado
para que ocorra a troca. Mas essa mesma produção, sob outras relações sociais
de produção, poderá ocorrer sem a necessidade de mensurar a quantidade de
trabalho contida no produto, não haverá a necessidade da produção humana
possuir valor – os produtos do trabalho humano em geral não serão mercadorias.
Ilienkov, quando trata da forma ideal, trata das coisas que possuem uma função
representativa, desempenhando um papel na mediação da atividade humana, e não
necessariamente dos instrumentos de trabalho ou mercadorias.
A divisão entre coisas materiais e ideais
não tem como base estarem na cabeça das pessoas ou não, e sim quais suas
funções dentro da produção da vida humana, qual seu papel nas relações sociais
de produção. O ideal existe fora e independente da cabeça das pessoas, mas é
percebido por essas mesmas cabeças: o ideal se produz e se realiza na e através
da atividade prática humana de produção da vida. Outra ressalva que podemos
destacar é a realizada por Maidansky (2005; 2010) sobre a polêmica iniciada por
Mikhail Lifschits após a morte de Ilienkov, em que ele buscou discutir a teoria
da forma ideal, porém, não através da própria teoria de Ilienkov, mas sim
mudando o significado do conceito, expresando ideal como é entendido no senso
comum, como um horizonte inatingível, que deve ser sempre buscado por
aproximações. Ou seja, ao final, Lifschits acabou não realizando aquilo que
queria: dialogar com Ilienkov. Durante essa década, Ilienkov também segue suas
discussões sobre estética, com os artigos Sobre
a Natureza Estética da Fantasia (1964), Avaliando a Concepção de Hegel da Relação de Verdade com Beleza (1966) e O Que Está por Trás do Espelho? (1969),
nos quais discute questões como a natureza da beleza, conceitos de imaginação e
sensibilidade estética, relação do entendimento artístico e científico, focando
principalmente em artes visuais. Ilienkov considerava a arte pop/moderna como
um espelho que nos mostra uma imagem das pessoas em um mundo alienado, sendo
depressiva porque é um reflexo verdadeiro de um mundo distorcido, porém, como
ela não pode se ver pelo que realmente é, acaba naturalizando essa realidade,
afirmando e perpetuando esse mundo alienado e irracional (Bakhurst, 2001). Ilienkov
segue também com as discussões que A
Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx suscitou,
publicando Resposta a J. A. Kronrod (O
Capital de Karl Marx e o Problema do Valor) (1961), Discurso aos Economistas (1965), Contribuição à Questão da Produção de Mercadorias (meados da década
de 1970). Na década de 1960, publica ainda A
Dialética Antiga como Forma de Pensamento, em que discorre sobre a
filosofia grega clássica, O Problema do
Ideal na Filosofia (1963) e Hegel e a
“Alienação” (1967).
Alexander Meshcheriakov funda, em 1963, uma
escola especializada em crianças cegas e surdas de nascimento, na cidade de
Zagorski e, algum tempo depois, torna-se diretor do Laboratório para
Treinamento e Estudo de Crianças Surdas e Cegas I. A. Sokolianskii do Instituto
de Pesquisa Científica de Educação Especial, sob os auspícios da Academia de
Psicologia da U.R.S.S. Juntam-se a ele nesta experiência Ilienkov, Vasili
Vasilievich Davidov (1930–1998) e Alexei Nikolaevich Leontiev (1903–1979).
Segundo Suvorov (2003) e Oittinen (2005), Ilienkov participou ativamente dessa
experiência, procurando ver na prática sua teoría sobre o ideal, sua teoria do
processo de formação da personalidade como objetivo da história do mundo.
Ilienkov buscou entender as habilidades individuais de forma distinta do
marxismo dogmático da Diamat 3,
entendendo essas habilidades, incluindo os cinco sentidos, como produtos
históricos e não como dons da natureza (Mareyeva, 2005). Para Ilienkov, o ser
humano é um ser universal, que não se
identifica com qualquer programa previamente imposto, tendo o potencial para
ser absolutamente flexível, sendo inimigo de um plano preordenado, seja ele a
anatomia do corpo orgânico, a estrutura neurodinâmica, instintos ou
estereótipos culturais (Naumenko, 2005). Depois da morte de Meshcheriakov, em 1974,
Ilienkov dirigiu e completou o treinamento de quatro estudantes seleccionados em
1968, que ingressaram e se formaram no curso de psicologia da Universidade de
Moscou.
Sobre o tema da educação, escreve diversos
artigos em meados da década de 1960 e 1970 (alguns não sendo publicados em
vida), como Nossas Escolas Devem Ensinar
a Pensar!, Sobre a Natureza da Habilidade, O Biológico e o Social no Homem,
Contribuição para a Discussão sobre a Educação Escolar, Contribuição para a
Questão do Conceito de ‘Atividade’ e sua Significância para a Pedagogia, Conhecimento
e Pensamento, Contribuição para uma Conversa Sobre Educação Estética, Aprender
a Pensar Enquanto Somos Jovens (1977). Para Ilienkov, a forma como deve ser
ensinado qualquer assunto deve ser construída de tal forma que o processo de
ensino e aprendizagem, além de transmitir conteúdo, ou seja, transmitir o
universal, as bases substanciais da cultura (e não suas particularidades), também
treine a mente, treine a habilidade de pensar (Novokhat’ko, 2007), pois o
intelecto não nasce com o ser humano, ele é resultado do desenvolvimento sócio-histórico
da humanidade, sendo, portanto, um talento dado pela sociedade ao indivíduo, e
isso se dá através da educação, “um
processo que envolve a transformação qualitativa da criança de um mero modo
animal de existência para um sujeito consciente de pensamento e experiência”
(Bakhurst, 2005, pp. 266-267).
A partir de 1968, quando o Instituto de
Filosofia da U.R.S.S. passa a ser liderado por Pavel Vasilevich Kopnin
(1922–1971), os livros de Ilienkov passam a ter permissão para publicação.
Nesse mesmo ano, publica o livro Sobre os Ídolos e Ideais, e em novembro
defende sua tese de doutorado, intitulada Quanto à Questão da Natureza do
Pensamento (Na Análise de Materiais da Dialética Clássica Alemã). Em 1969,
publica o livro V.I. Lenin e os Problemas Atuais da Dialética; em 1974, publica
um livro que reúne diversos trabalhos: A
Lógica Dialética – Estudos em História e Teoria; em 1977, o livro Aprender a Pensar Desde Cedo; e em 1979,
publica Dialética Leninista e a
Metafísica do Positivismo: Reflexões sobre o libro “Materialismo e
Empiriocriticismo” de V. I. Lenin, seu último trabalho publicado em vida.
Durante a década de 1970, ainda publica diversos artigos, como o verbete Substância (1970), na Enciclopédia Filosófica, que, de acordo
com Oittinen (2005), desafia o
conceito de matéria oficial da Diamat,
além de Humanismo e Ciência (1971), O Universal (1973), Atividade e Conhecimento (1974), Dialética e Visão de Mundo (1979) e O Problema da Contradição na Lógica (1979). Ao final da década de
1970, desgastado o clima intelectual na União Soviética, a inatividade dos
dogmáticos e a atividade cada vez mais agressiva do que Lifschits chamou de
intelectualidade liberal-burguesa soviética tiveram grande impacto em Ilienkov.
Buscaram distanciá-lo dos alunos do experimento de Meshcheriakov, além de o
diretor do Instituto de Filosofia ter se negado por seis vezes a publicar seu
artigo O Problema do Ideal. Ilienkov buscava mudar de local de trabalho, e
alguns de seus amigos tentaram ajudá-lo, porém, antes que conseguissem realizar
qualquer ação, veio a inesperada notícia de seu suicidio (Carrión, 2012).
Após sua morte, em 21 de março de 1979,
foram publicadas diversas obras, como A
Arte e o Ideal Comunista (1984), uma segunda edição de Lógica Dialética (1984), Filosofia
e Cultura (1991), A Dialética do
Abstrato e do Concreto no Pensamento Científico e Teórico (1997), A Escola Deve Ensinar a Pensar (2002), e
uma segunda edição de Sobre os Ídolos e
Ideais (2002). Além de livros, Ilienkov publicou uma vasta obra, incluindo
capítulos e artigos em livros, artigos em enciclopédia e periódicos, além de
ter deixado diversos manuscritos. Suas obras foram traduzidas para muitas
línguas, entre elas alemão, chinês, coreano, inglês, italiano, espanhol,
francês, tcheco, polonês, servo-croata, finlandês, grego, punjabi e japonês; e
recentemente também foram traduzidos alguns desses textos para o português 4.
Apesar da tradução em inúmeras línguas e de ser até hoje influente na Rússia
pós-soviética, Ilienkov ainda permanece sendo um autor pouco conhecido
internacionalmente e no Brasil.
Em 1980, um ano após a morte de Ilienkov,
seus ex-alunos realizaram o I Seminário
em Memória de E. V. Ilienkov, tendo sido realizado anualmente até 1990.
Nesse ano, Serguei Nikolaevich Mareiev e Guennadi Lobastov, dois de seus discípulos,
decidem transformar o seminário em um encontro filosófico de nível mais
elevado, nascendo assim conferências chamadas Leitura de Ilienkov, realizadas, desde então, anualmente. A partir
de 1997, os assuntos discutidos passaram a ser publicados. Também existe um
arquivo de suas publicações online, curado por Andrey Maidansky, chamado Lendo Ilienkov5.
Sumário
— O contexto de sua obra
— Considerações finais
— Referências
Baixar este arquivo — PDF: 15 pp. |
http://www.marxeomarxismo.uff.br/ |