27/9/16

Evald Vasilievich Ilienkov: um marxista a ser descoberto

Evald Vasilievich Ilienkov
Marcelo José de Souza e Silva

Evald Vasilievich Ilienkov foi um filósofo soviético que teve como cerne de sua obra o confronto ao neopositivismo/empirismo, além de ter elaborado sobre a teoria do conhecimento, a lógica e a dialética, sob um ponto de vista materialista, enfatizando a unidade entre o subjetivo e o objetivo e a ligação orgânica entre a lógica e a história; discutiu também questões sobre psicologia, educação, estética, e escreveu sobre a teoria da personalidade, o desenvolvimento do pensamento e da apropriação do conhecimento no ensino escolar, enfatizando a questão social no tornar-se humano. Publicou uma vasta obra, incluindo artigos em enciclopédia e periódicos e capítulos em livros, além de ter deixado diversos manuscritos. Suas obras foram traduzidas para muitas línguas, recentemente também para português. Entretanto, apesar da tradução em inúmeras línguas e de ser até hoje influente na Rússia pós-soviética, Ilienkov ainda permanece sendo um autor pouco conhecido internacionalmente e no Brasil.
Vida e morte
Evald Vasilievich Ilienkov nasceu em 18 de fevereiro de 1924, em Smolensk, oeste da Rússia (na época, Bielorrússia), filho do escritor Vassili Pavlovich Ilienkov (1897–1967) e da professora Elizabet Ilinichna. Em 1941 formou-se na escola nº 170 de Moscou, iniciando em setembro do mesmo ano seus estudos em filosofia na Faculdade de Filosofia do Instituto de Filosofia, Literatura e História de Moscou. Foi obrigado a se afastar em 1942, devido ao alistamento militar para a II Guerra Mundial. Com o fim da guerra, o Instituto de Filosofia e Artes de Moscou foi fechado e Ilienkov continuou seus estudos, a partir de fevereiro de 1946, na Universidade Estadual de Moscou, onde conhece Valentin Ivanovich Korovikov e Alexander Ivanovich Meshcheriakov (1923–1974). Conclui o curso em junho de 1950, mesmo ano em que se tornou membro do Partido Comunista, com recomendações para os cursos de pós-graduação do Departamento de História de Filosofia Marxista-Leninista, e em que se casa com a pedagoga Olga Salimova.

Em setembro de 1953, sob orientação de Teodor Ilich Oizerman (1914–), Ilienkov defende sua dissertação de mestrado, intitulada Alguns Problemas na Dialética Materialista da Crítica da Economia Política de Karl Marx. Neste ano passa a lecionar, juntamente com Valentin Korovikov, na Universidade Estadual de Moscou. Este também é o ano da morte de Joseph Vissarionovich Stalin (1878–1953), período no qual começa o degelo krushchovista, liderado por Nikita Sergeievich Khrushchev (1894–1971). Entretanto, apesar de suas promessas de superar os dogmas do período anterior, falhou em remover os velhos filósofos das instituições de ensino. Isso faz com que surjam expoentes de um novo grupo de teóricos dispostos a enfrentar os dogmas do regime stalinista, tendo como principais figuras Ilienkov e Aleksandr Aleksandrovich Zinoviev (1922–2006), os quais, na tentativa de combater o legado stalinista, entram em choque com esses velhos filósofos.

Por esses embates e por se posicionar por uma necessidade da filosofia soviética se repensar, é demitido da Universidade Estadual de Moscou em maio de 1955, acusado de revisionismo1, após ele e Korovikov declararem públicamente que a filosofia marxista é lógica e teoria do conhecimento, sendo seu objeto o pensamento (Naumenko, 2005). Essas articulações foram entendidas como fuga problemas vitais práticos da ciência pura para o pensamento puro. De acordó com a comissão do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, isso se constituía em uma perversão da filosofia do marxismo, uma revisão da base da filosofia marxista-leninista. Entretanto, de acordo com Siebert (2005), o que Vigotski buscou enquanto psicólogo, Ilienkov buscou enquanto filósofo: superar a separação formal entre filosofia e ciências concretas, elaborando uma teoria que rejeita o dualismo entre corpo e mente. Ilienkov e Korovikov buscaram retornar a filosofia às raízes do marxismo, restringindo seus objetivos à esfera do pensamento puro, pois, para Ilienkov, o objeto genuíno da filosofia era o ideal e seus fenômenos (Maidansky, 2005), buscando entender a natureza do pensamento na estrutura das relações sociais e mostrar que o ideal é a forma especial de movimento dos corpos no processo de trabalho e dentro da cultura, distanciando-se do entendimento do senso comum de que o ideal é um sinônimo de mental, em contraste com o real que é tangível (Maidansky, 2014). Ilienkov buscaba resgatar a filosofia do empobrecimento que ela vinha sofrendo durante o século XX, um empobrecimento de seu objeto de estudo, um reducionismo obséquio que se manifesta na substituição de seu objeto por qualquer outro.

Alguns filósofos transformaram a filosofia em um simples apêndice das ciências naturais, outros a igualaram com a lógica formal, ainda outros com a matemática, com a psicologia, com a fisiologia, com a linguística, com a teologia e alguns também com a arte. Nessa esteira, a psicologia ainda foi reduzida à fisiologia, a matemática à lógica, a lógica à linguística, e assim por diante (Naumenko, 2005). Algum tempo depois de sua expulsão, por recomendação de Oizerman e Marc Moisieievich Rosental (1906–1975), Ilienkov consegue um cargo no Instituto de Filosofia da U.R.S.S., no setor Materialismo Dialético (onde trabalhou até sua morte). Porém, mesmo tendo sido aceito no instituto, Ilienkov foi sendo cada vez mais isolado devido aos seus embates com os filósofos do regime stalinista e, eventualmente, foi até mesmo impedido de ensinar. Como exemplo, Bakhurst (1991) especula que Ilienkov foi impedido pelos diretores do instituto de participar de um simpósio chamado Marx and the Western World na Universidade de Notre Dame, em 1965, além de ter sido objeto de uma campanha de acusações, na qual seu artigo enviado, Do Ponto de Vista Marxista-Leninista, é acusado de ser antimarxista. Segundo Maidansky (2013), os três relatórios enviados por Ilienkov falam sobre a alienação criada pela divisão do trabalho, afirmando que, no socialismo, essa alienação ainda continua, pois a forma de propriedade criada com a revolução socialista era apenas uma negação formal-jurídica da propriedade privada. Para Ilienkov, a propriedade que pertence ao Estado é pública apenas formalmente, apenas no aspecto judicial, enquanto, na prática, a forma socialista de propriedade continua sendo privada. A real superação da alienação é um processo de transformação da propriedade privada na verdadeira propriedade de cada indivíduo, de cada membro da sociedade, e não a monopolização da propriedade no Estado. Essas argumentações não passaram na censura e foram cortadas da versão enviada ao simpósio.

Mesmo com todas as adversidades, na segunda metade da década de 1950, Ilienkov publica os artigos A Dialética do Abstrato e do Concreto no Pensamento Científico e Teórico (1955), Sujeito e Objeto (1956), Sobre a Questão da Contradição no Pensamento (1957), Sobre a ‘Especificidade’ da Arte (1960), além do discurso Sobre o Papel da Contradição no Conhecimento (1958) na conferência O Problema da Contradição no Mundo Científico e Prático Contemporâneo, do Instituto de Filosofia da Academia de Ciências da U.R.S.S., a resenha do livro O Jovem Hegel (1956), de György Lukács (1885–1971), e as traduções para o russo de Quem Pensa Abstratamente? (1956), de Hegel, e Critérios Econômicos de Hegel no Período de Jena (1956) – parte do livro O Jovem Hegel, de Lukács. Segundo Carrión (2012), depois da publicação do livro A Dialética de O Capital de Karl Marx, de Marc Rosental, em 1955, iniciou-se um ciclo de investigação muito frutífero sobre os problemas da dialética materialista. Nesse ínterim, Ilienkov e alguns de seus alunos criaram um grupo de estudo sobre a relação entre a lógica hegeliana e a dialética materialista. Esse grupo buscou traducir para o russo a obra O Jovem Hegel, de Lukács. Buscando solucionar dúvidas terminológicas sobre a relação entre os conceitos Entäußerung e Entfremdung, entraram em contato com o autor, que indicou que procurassem o filósofo ruso Mikhail Alexandrovich Lifschits (1905–1983), amigo e estudioso de Lukács.

De acordo com Maidansky (2013), nessa mesma época, em 1956, ocorre a insurreição húngara e, como Lukács era Ministro da Cultura, foi impossível publicar seus trabalhos em russo. Dez anos depois, Ilienkov e seus alunos tentaram publicar mais uma vez a tradução, novamente sem sucesso. E apesar de seu interesse na obra de Lukács e de muitos pontos em comum, Ilienkov era contrário à divisão lukacsiana entre ontologia e gnosiologia. Para ele, essa divisão ocorre quando se entende a realidade como refratada no espelho do intelecto, enquanto o que a filosofia deve buscar é um princípio materialista da identidade do pensamento e do ser, procurando superar o objeto da ontologia – a relação do pensamento com realidade (realidade em geral) – pelo objeto da filosofia da relação da realidade com si mesma, realidade essa concretamente histórica. Para Ilienkov, a lógica formal é a ciência das formas simbólicas da expressão do pensamento, funcionando muito bem no campo da linguagem. Enquanto a lógica formal ensina apenas a expressar pensamentos corretamente, a lógica dialética ensina a producir pensamentos. A Lógica, a dialética (materialista), portanto, é o pensamento sobre o pensamento (Maidansky, 2013).

Em 1960, é publicado pela Editora da Academia de Ciências da U.R.S.S. o seu primeiro livro, A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx, que continha o manuscrito A Dialética do Abstrato e do Concreto no Pensamento Científico e Teórico. P. N. Fedoseiev, diretor do Instituto de Filosofia na época em que Ilienkov lá trabalhava, leu o manuscrito do livro e mandou destruí-lo, não permitindo sua publicação. Porém, alegando ter sido roubado, o manuscrito aparece na Itália, como futura publicação da editora Feltrinellli. Com isso, o Instituto faz com que Ilienkov reescreva o manuscrito para ser publicado em russo antes da edição italiana, retirando, por pressão, a maioria das partes hegelianas e toda sua crítica contra a lógica formal, sendo publicado, ao final, um livro com aproximadamente um terço do conteúdo original. A tradução italiana foi publicada em 1961. Contraditoriamente, em 1965, por seu trabalho sobre a história e a teoria do conhecimento da dialética materialista, recebe da Academia de Ciências o prêmio Tchernichévski.

Em 1962, escreve o verbete Ideal para o segundo volume da Enciclopédia Filosófica, sendo que até esse momento a categoria ideal havia sido pouco explorada por autores marxistas. Segundo Maidansky (2014), esse verbete gerou grandes debates, considerado por muitos como puro hegelianismo. No verbete, inicia a grande questão que foi seu objeto de estudo e para a qual sempre retornou, o ideal, procurando resgatá-lo das concepções positivistas – que o entendiam enquanto sinônimo de mental, de subjetivo –, mostrando que o ideal existe apenas no movimento da atividade humana, apenas no momento de conversão da forma de uma coisa na forma de atividade e vice-versa, pois tão logo a atividade humana acabe, o ideal é imediatamente extinto. O ideal é a representação da própria essência das coisas, portanto, essa essência é material, sendo o ideal algo objetivo (mesmo que não seja necessariamente material). E dentro da consciência essa forma ideal objetiva da atividade humana adquire subjetividade. Essa representação aparece de forma superior através do conceito, pois o único requisito do conceito é que ele expresse devidamente a essência de seu objeto, que ele seja verdadeiro, não importando como essa coisa apareça, de como mude seu aspecto externo. Ilienkov, em A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx, usará o valor como exemplo (seguindo os passos de Marx (1818–1883) em O Capital) da forma ideal, sendo seu conteúdo a atividade material do ser humano – que tem o trabalho enquanto sua substância e que existe apenas enquanto as relações entre os indivíduos se dão através do mercado (no modo de produção capitalista)2 (Maidansky, 2010).

Aqui cabe colocar as ressalvas feitas por Jones (1998; 1999) a Bakhurst 1991; 1997) em sua interpretação do que é o ideal na obra de Ilienkov. Ideal não é qualquer coisa resultante de uma atividade humana que possui uma ideia, uma intenção, por trás de sua produção. A idealidade também não consiste na função,  utilidade das coisas produzidas, assim como quando Ilienkov trata da representação, não é no sentido de representação da atividade exercida pelo objeto. A idealidade da forma valor está calcada nas relações sociais de produção capitalistas, que exigem que os diversos produtores privados igualem suas mercadorías no mercado para que ocorra a troca. Mas essa mesma produção, sob outras relações sociais de produção, poderá ocorrer sem a necessidade de mensurar a quantidade de trabalho contida no produto, não haverá a necessidade da produção humana possuir valor – os produtos do trabalho humano em geral não serão mercadorias. Ilienkov, quando trata da forma ideal, trata das coisas que possuem uma função representativa, desempenhando um papel na mediação da atividade humana, e não necessariamente dos instrumentos de trabalho ou mercadorias.

A divisão entre coisas materiais e ideais não tem como base estarem na cabeça das pessoas ou não, e sim quais suas funções dentro da produção da vida humana, qual seu papel nas relações sociais de produção. O ideal existe fora e independente da cabeça das pessoas, mas é percebido por essas mesmas cabeças: o ideal se produz e se realiza na e através da atividade prática humana de produção da vida. Outra ressalva que podemos destacar é a realizada por Maidansky (2005; 2010) sobre a polêmica iniciada por Mikhail Lifschits após a morte de Ilienkov, em que ele buscou discutir a teoria da forma ideal, porém, não através da própria teoria de Ilienkov, mas sim mudando o significado do conceito, expresando ideal como é entendido no senso comum, como um horizonte inatingível, que deve ser sempre buscado por aproximações. Ou seja, ao final, Lifschits acabou não realizando aquilo que queria: dialogar com Ilienkov. Durante essa década, Ilienkov também segue suas discussões sobre estética, com os artigos Sobre a Natureza Estética da Fantasia (1964), Avaliando a Concepção de Hegel da Relação de Verdade com Beleza (1966) e O Que Está por Trás do Espelho? (1969), nos quais discute questões como a natureza da beleza, conceitos de imaginação e sensibilidade estética, relação do entendimento artístico e científico, focando principalmente em artes visuais. Ilienkov considerava a arte pop/moderna como um espelho que nos mostra uma imagem das pessoas em um mundo alienado, sendo depressiva porque é um reflexo verdadeiro de um mundo distorcido, porém, como ela não pode se ver pelo que realmente é, acaba naturalizando essa realidade, afirmando e perpetuando esse mundo alienado e irracional (Bakhurst, 2001). Ilienkov segue também com as discussões que A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx suscitou, publicando Resposta a J. A. Kronrod (O Capital de Karl Marx e o Problema do Valor) (1961), Discurso aos Economistas (1965), Contribuição à Questão da Produção de Mercadorias (meados da década de 1970). Na década de 1960, publica ainda A Dialética Antiga como Forma de Pensamento, em que discorre sobre a filosofia grega clássica, O Problema do Ideal na Filosofia (1963) e Hegel e a “Alienação” (1967).

Alexander Meshcheriakov funda, em 1963, uma escola especializada em crianças cegas e surdas de nascimento, na cidade de Zagorski e, algum tempo depois, torna-se diretor do Laboratório para Treinamento e Estudo de Crianças Surdas e Cegas I. A. Sokolianskii do Instituto de Pesquisa Científica de Educação Especial, sob os auspícios da Academia de Psicologia da U.R.S.S. Juntam-se a ele nesta experiência Ilienkov, Vasili Vasilievich Davidov (1930–1998) e Alexei Nikolaevich Leontiev (1903–1979). Segundo Suvorov (2003) e Oittinen (2005), Ilienkov participou ativamente dessa experiência, procurando ver na prática sua teoría sobre o ideal, sua teoria do processo de formação da personalidade como objetivo da história do mundo. Ilienkov buscou entender as habilidades individuais de forma distinta do marxismo dogmático da Diamat 3, entendendo essas habilidades, incluindo os cinco sentidos, como produtos históricos e não como dons da natureza (Mareyeva, 2005). Para Ilienkov, o ser humano é um ser universal, que não se identifica com qualquer programa previamente imposto, tendo o potencial para ser absolutamente flexível, sendo inimigo de um plano preordenado, seja ele a anatomia do corpo orgânico, a estrutura neurodinâmica, instintos ou estereótipos culturais (Naumenko, 2005). Depois da morte de Meshcheriakov, em 1974, Ilienkov dirigiu e completou o treinamento de quatro estudantes seleccionados em 1968, que ingressaram e se formaram no curso de psicologia da Universidade de Moscou.

Sobre o tema da educação, escreve diversos artigos em meados da década de 1960 e 1970 (alguns não sendo publicados em vida), como Nossas Escolas Devem Ensinar a Pensar!, Sobre a Natureza da Habilidade, O Biológico e o Social no Homem, Contribuição para a Discussão sobre a Educação Escolar, Contribuição para a Questão do Conceito de ‘Atividade’ e sua Significância para a Pedagogia, Conhecimento e Pensamento, Contribuição para uma Conversa Sobre Educação Estética, Aprender a Pensar Enquanto Somos Jovens (1977). Para Ilienkov, a forma como deve ser ensinado qualquer assunto deve ser construída de tal forma que o processo de ensino e aprendizagem, além de transmitir conteúdo, ou seja, transmitir o universal, as bases substanciais da cultura (e não suas particularidades), também treine a mente, treine a habilidade de pensar (Novokhat’ko, 2007), pois o intelecto não nasce com o ser humano, ele é resultado do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade, sendo, portanto, um talento dado pela sociedade ao indivíduo, e isso se dá através da educação, “um processo que envolve a transformação qualitativa da criança de um mero modo animal de existência para um sujeito consciente de pensamento e experiência” (Bakhurst, 2005, pp. 266-267).

A partir de 1968, quando o Instituto de Filosofia da U.R.S.S. passa a ser liderado por Pavel Vasilevich Kopnin (1922–1971), os livros de Ilienkov passam a ter permissão para publicação. Nesse mesmo ano, publica o livro Sobre os Ídolos e Ideais, e em novembro defende sua tese de doutorado, intitulada Quanto à Questão da Natureza do Pensamento (Na Análise de Materiais da Dialética Clássica Alemã). Em 1969, publica o livro V.I. Lenin e os Problemas Atuais da Dialética; em 1974, publica um livro que reúne diversos trabalhos: A Lógica Dialética – Estudos em História e Teoria; em 1977, o livro Aprender a Pensar Desde Cedo; e em 1979, publica Dialética Leninista e a Metafísica do Positivismo: Reflexões sobre o libro “Materialismo e Empiriocriticismo” de V. I. Lenin, seu último trabalho publicado em vida. Durante a década de 1970, ainda publica diversos artigos, como o verbete Substância (1970), na Enciclopédia Filosófica, que, de acordo com Oittinen (2005), desafia o conceito de matéria oficial da Diamat, além de Humanismo e Ciência (1971), O Universal (1973), Atividade e Conhecimento (1974), Dialética e Visão de Mundo (1979) e O Problema da Contradição na Lógica (1979). Ao final da década de 1970, desgastado o clima intelectual na União Soviética, a inatividade dos dogmáticos e a atividade cada vez mais agressiva do que Lifschits chamou de intelectualidade liberal-burguesa soviética tiveram grande impacto em Ilienkov. Buscaram distanciá-lo dos alunos do experimento de Meshcheriakov, além de o diretor do Instituto de Filosofia ter se negado por seis vezes a publicar seu artigo O Problema do Ideal. Ilienkov buscava mudar de local de trabalho, e alguns de seus amigos tentaram ajudá-lo, porém, antes que conseguissem realizar qualquer ação, veio a inesperada notícia de seu suicidio (Carrión, 2012).

Após sua morte, em 21 de março de 1979, foram publicadas diversas obras, como A Arte e o Ideal Comunista (1984), uma segunda edição de Lógica Dialética (1984), Filosofia e Cultura (1991), A Dialética do Abstrato e do Concreto no Pensamento Científico e Teórico (1997), A Escola Deve Ensinar a Pensar (2002), e uma segunda edição de Sobre os Ídolos e Ideais (2002). Além de livros, Ilienkov publicou uma vasta obra, incluindo capítulos e artigos em livros, artigos em enciclopédia e periódicos, além de ter deixado diversos manuscritos. Suas obras foram traduzidas para muitas línguas, entre elas alemão, chinês, coreano, inglês, italiano, espanhol, francês, tcheco, polonês, servo-croata, finlandês, grego, punjabi e japonês; e recentemente também foram traduzidos alguns desses textos para o português 4. Apesar da tradução em inúmeras línguas e de ser até hoje influente na Rússia pós-soviética, Ilienkov ainda permanece sendo um autor pouco conhecido internacionalmente e no Brasil.

Em 1980, um ano após a morte de Ilienkov, seus ex-alunos realizaram o I Seminário em Memória de E. V. Ilienkov, tendo sido realizado anualmente até 1990. Nesse ano, Serguei Nikolaevich Mareiev e Guennadi Lobastov, dois de seus discípulos, decidem transformar o seminário em um encontro filosófico de nível mais elevado, nascendo assim conferências chamadas Leitura de Ilienkov, realizadas, desde então, anualmente. A partir de 1997, os assuntos discutidos passaram a ser publicados. Também existe um arquivo de suas publicações online, curado por Andrey Maidansky, chamado Lendo Ilienkov5.
Sumário
— O contexto de sua obra
— Considerações finais
— Referências
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