Karl Marx & Friedrich Engels ✆ João Pinheiro |
curso da guerra, dispensou todos os seus colaboradores internacionais, interrompendo a correspondência de Marx em 1862. Os primeiros artigos que Marx e Engels dedicaram às relações diplomáticas entre os Estados europeus no Tribune tiveram, como pano de fundo, o refluxo dosmovimentos revolucionários que se haviam disseminado ao longo do continente no período 1847-1849 e o estabelecimento do Segundo Império Francês sob a direção de Luiz Bonaparte, no ano de 1851. Foi justamente à atividade deste último personagem que os dois articulistas dirigiram suas primeiras observações em matéria de diplomacia internacional. Contudo, no primeiro ano de colaboração de Marx e Engels para com o Tribune, a emergência nacional das populações da Europa Centro-Oriental e o balanço dos movimentos democrático-radicais no interior do mundo germânico constituíram os temas privilegiados da correspondencia jornalística dos dois pensadores revolucionários alemães com o diario estadunidense.
Somente a partir do biênio 1853-1854, as articulações político-diplomáticas
entre os principais Estados nacionais europeus situaram-se no centro das
preocupações internacionais dos dois companheiros de lutas e letras. Os
interesses internacionais tangidos pelo movimento de unificação italiana, o
destino da Turquia e as ações da Rússia, tais foram os temas internacionais que
mais catalisaram a atenção de Marx e Engels neste período.
Não escaparam ao olhar dos dois críticos alemães os
objetivos restauracionistas e conservadores que presidiram à fundação do
sistema internacional da Convenção de Viena1. Interessados como estavam nos
destinos do movimento revolucionário europeu, Marx e Engels não pouparam
críticas às concepções e aos métodos das cinco potências (Áustria, Prússia,
Rússia, Inglaterra e França), que constituíam o núcleo duro deste sistema. Para
os dois autores, por detrás da verborragia altisonante dos homens de Estado
europeus do período ocultavam-se dois objetivos inconfessáveis: o desejo de
supremacia e o repúdio à revolução. Para eles, portanto, tais desígnios não
poderiam inspirar outras atitudes internacionais se não aquelas caracterizadas
pela hipocrisia e a simulação entre as grandes potências, o desrespeito à
soberania nacional e a prática sistemática de chantagens e intimidações no tratamento
dispensado por estas aos Estados menores. Como regra geral, vigorava, portanto,
a prática da interferência recíproca nos assuntos internos de outros Estados, limitada
apenas pelo equilíbrio de poder nas relações entre eles.
Ainda naquele contexto, Marx e Engels já percebiam o
aprofundamento das tensões entre as potências européias com relação aos
problemas do Oriente Próximo. Verificava-se então um deslocamento da atenção
dos principais Estados euroocidentais para as perspectivas geradas pela
deterioração do poder do Império Turco. O que significava possibilidades reais
de absorção de parcelas valiosas do antigo império dos sultões como aquelas
situadas na região dos Balcãs, bem como nas imediações do Estreito de Bósforo e
dos Dardanelos. Destarte, uma extensa série de artigos dos dois autores versou
sobre a chamada “Questão Oriental”, ponto nodal da futura Guerra da Criméia.
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