Maurice Merleau-Ponty ✆ Michael Hayter |
Cristina Diniz
Mendonça | A tentativa merleau-pontyana de aproximação
do marxismo, emprendida nos idos do pós-guerra, é perpassada por constante
ambigüidade. Não obstante o propósito do filósofo de se filiar à teoria de
Marx, suas análises políticas revelam-se distantes de suas intenções.
Concebendo a história como uma "aventura" que escapa a qualquer
esquema racional, Merleau-Ponty questiona, desde seus primeiros escritos, a
dialética marxista entre lógica e contingência na história. A tensão interna
que dilacera os textos do autor nos anos 40, anunciando (e preparando) a recusa
da teoria da revolução estampada mais tarde nas Aventuras da Dialética,
permite indagar se esse desfecho dos anos 50 não teria sido, ao invés de um
corte no interior da obra, o resultado necessário dessa tentativa problemática
de aproximação do marxismo a partir de categorias que lhe são estranhas
(próprias às filosofias da existência e à fenomenologia).
Com um passado filosófico que remonta a o pré-guerra, enraizado na fenomenologia alemã e herdeiro da leitura kojeveana de Hegel, Maurice Merleau-Ponty inicia a segunda meta de dos anos 40 seu diálogo com o marxismo . Partindo de uma interpretação "existencialista" de Marx, o filósofo se lança, na queles i dos dopós-guerra, numa tentativa de pensar a história e a política vinculando – a sàs articulações da existência. Sugestivamente, o texto de abertura de Sens et Non-Sens - livro onde o autor
reúne, entre outras, algumas de suas reflexões sobre a história e a política - é u a meditação sobre Cézanne. A arte aparece sempre como o pano de fundo do pensamento merleau-pontyano sobre a história.