23/8/14

Experiência política e experiência filosófica | Marx, Adorno e a compreensão da práxis

Karl Marx ✆ A.d. 
Wolfgang Leo Maar   |    No marxismo clássico, a determinação da consciência pelo ser ocorre numa concepção que enfatiza o avanço na satisfação objetiva de carências como fome e miséria. A consciência da solução de problemas leva a uma compreen-são da práxis como experiência política de aparente paralisia, avessa a mudan-ças práticas. Mas esta é uma compreensão falsa da práxis que só interessa à perpetuação do vigente e provém da dominação resultante da sociedade baseada exclusivamente na mercantilização. Na articulação de Marx com Adorno, como exposto na Dialética Negativa, a determinação da consciência pelo ser material dá lugar a uma determinação materialista desenvolvida como experiência filosófica de um primado dialético do objeto. O objeto, prioritário na satisfação das necessidades humanas, é apreendido também como mercado-ria, objeto “coisificado”. Para a revisão adorniana, a determinação da cons-ciência deve levar em conta a produção objetiva das carências: fome e miséria já não são só situações originárias, mas resultantes do processo de acumulação de riqueza. 

Adorno enfatiza que, numa sociedade de abundância em que per-siste a fome como resultado das relações de produção vigentes, estas devem ser objeto de transformação. A experiência política deve levar em conta am-bas as dimensões do objeto expostas nessa experiência filosófica: sua “face” no plano dos interesses materiais e sua “careta” no plano da mercantilização objetiva decorrente das relações vigentes. As determinações impostas pelo pla-no material, no âmbito da geração da sociedade e suas necessidades, não se transferem imediatamente, mas apenas de modo mediado, à práxis na socieda-de, com suas mercadorias. A perspectiva da experiência filosófica possibilita a compreensão da práxis na sociedade mercantilizada como experiência políti-ca, tanto de paralisia, quanto de crítica.
 


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